[Paulicéia 005] Alexandre Youssef: "Se pudermos ocupar as ruas, 2022 será o grito de Carnaval da Paulicéia Desvairada"
Secretário de Cultura destaca que centenário da Semana de Arte Moderna é tão importante quanto o Carnaval.
TL;DR 👉 Primeira parte da entrevista com o Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, Alexandre Youssef. O decreto da comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, Modernismo 22+100, foi o último assinado pelo Prefeito Bruno Covas. Celebração já está acontecendo virtual e fisicamente. O Prefeito Ricardo Nunes vai instituir comissão para discutir produção do Carnaval, mas palavra final é da Secretaria de Saúde. 🤞A segunda parte da entrevista será enviada na quarta-feira, falando de projetos importantes como o Museu de Arte de Rua.
Alê Youssef, 46, tem orgulho da sala que ocupa no Edifício Sampaio Moreira, na rua Líbero Badaró, centro velho de São Paulo. Assim que eu chego para nossa conversa ele abre as portas e começa a mostrar a vista da varanda. O gabinete de Youssef é mesmo privilegiado: em uma cidade em que "vista bonita" normalmente significa ver um monte de prédios do alto, ele tem uma varanda mirando o Edifício Matarazzo, o Viaduto do Chá, o Vale do Anhangabaú e o Theatro Municipal. Sem contar que pode descer ao térreo e comer empadas da Mercearia Godinho, no mesmo endereço desde 1888. O próprio edifício, sede da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, é histórico: foi o primeiro arranha-céu da cidade.
Quando Youssef, então diretor executivo da Associação Cultural Acadêmicos do Baixo Augusta e comentarista da CBN, foi convidado para ocupar o gabinete, Bruno Covas e João Dória tinham acabado de assumir os cargos de Prefeito e Governador de São Paulo. Faz só dois anos e meio, mas parece lembrança de tempos remotos. Muita coisa aconteceu nesse período: São Paulo teve o maior Carnaval de sua história, com 15 milhões de pessoas1 nas ruas; a pandemia transformou Dória em oponente aberto de Bolsonaro; Youssef saiu da Secretaria para coordenar o programa Cidade Solidária; Guilherme Boulos, candidato assumidamente socialista, chegou ao segundo turno das eleições para Prefeito, perdendo para Covas, que, reeleito, ficou no cargo poucos meses e morreu em maio, aos 41 anos, vítima de câncer. A cidade, agora sob gestão de Ricardo Nunes, ultrapassa 45 mil mortes por Covid-19 desde o começo da pandemia2 e prevê a vacinação de toda a população adulta até o fim de agosto3.
"A questão da vacinação é que responde a pergunta que muita gente está fazendo: teremos Carnaval ano que vem? Havendo a imunização completa das pessoas, teremos condições de fazer."
O Carnaval é muito importante, claro, como emprego, comércio e catarse. Mas ele não vem sozinho: antes de fevereiro, São Paulo viverá o Modernismo 22+100, a gigantesca comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922:
A Secretaria Municipal de Cultura em 2021.
"Estamos numa situação de altivez, com muito empoderamento dado pelo Prefeito. O Bruno Covas se reelegeu e me convidou para ser Secretário de Cultura novamente. O que me faz aceitar é um pedido que coincide com o que eu acho que é a coisa mais importante: criar um plano de amparo e um plano de retomada. Neste plano de retomada a gente teve a oportunidade perfeita: fazer uma grande celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Sinceramente, eu não sei se teria voltado se não fosse por essa data tão simbólica. Isso me ganhou, achei que seria interessante fazer parte desse processo, trabalhar com afinco para trazer todo o tipo de amparo possível para o setor, criar ações simbólicas de ocupação cultural da cidade, que demonstram a importância e a vitalidade da cultura mesmo na pandemia. Acho que isso aconteceu simbolicamente no aniversário de São Paulo e no Carnaval. Nós conseguimos esse recurso para fazer um plano de amparo com R$100 milhões, via antecipação de editais, garantias de lei de incentivo, editais de casas e espaços culturais, recursos para realização das programações artísticas, e logo depois, articuladamente, iniciamos o processo do centenário da Semana de 1922, que já está acontecendo. O ápice será entre 11 e 18 de fevereiro de 2022, data oficial do centenário, quando faremos uma série de ações, com programação intensa no Theatro Municipal e programação gigantesca de ocupação cultural da cidade com cortejos modernistas, bailes futuristas e banquetes antropofágicos.
Vacinação e retomada do espaço público.
"Nós temos plano A e plano B. No plano A, a ocupação acontece de forma integral, mas depende de termos a maioria da população vacinada. No plano B, seguimos todas as regras e não colocamos ninguém em risco. Quem vai dar essa orientação, no momento certo, é a Secretaria de Saúde. Essa é a nossa motivação, nossa conduta. Ficamos esperançosos porque agora, na semana passada, houve uma sinalização de início de discussão sobre Carnaval e Réveillon. É mais fácil suspender o processo e adiar a data, se necessário, do que organizar de última hora, são coisas muito grandes. Por isso, acho correta a decisão de iniciar essas discussões. Me parece que havendo a imunização completa das pessoas, teremos condições de fazer, sim. Mas, claro, tudo pode acontecer. Temos que estar atentos.
"A Semana 22 + 100 é independente dessa condição. E é uma data de reflexão muito importante, principalmente por causa da provocação que estamos fazendo. Numa nota emocionante e triste, esse foi o último decreto assinado pelo Bruno Covas em vida: a criação do Modernismo 22+100, que institui um grupo de trabalho para organização do centenário, coordenado pela Secretaria de Cultura. O grupo, uma comissão de instituições culturais junta MASP, MUBE, MAM, MAC, USP, PUC, Liga das Escolas de Samba, Centro de Tradições Nordestinas, e outras instituições grandes e pequenas do Estado. É muito legal. O decreto também criou o Ciclo 22+100, que é uma curadoria aberta. Gravamos uma série de debates com muitas figuras, gente da cultura erudita e da cultura popular, personalidades expoentes da nossa sociedade: Eliane Dias, Kondzilla, Tom Zé, Zé Celso. Esses debates se transformam em podcasts e vídeos.
A potência desse projeto não vem só do marco do centenário, mas da provocação. Existe um novo modernismo? Que novo modernismo é esse? Para nós, há tempos o novo modernismo está acontecendo nas periferias da cidade.
"O decreto criou também nove Centros de Referência do Novo Modernismo, todos em bibliotecas públicas. O maior é na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, que é gigante. Tem também o Álvares de Azevedo na Vila Maria e o Cora Coralina no Campo Limpo. São nove ao todo4. Quem for aos centros vai encontrar literatura modernista tradicional com literatura periférica atual no mesmo lugar. Estamos lançando também editais de fomento a seminários, palestras e debates. Esse é o caldo que queremos deixar.
Carnaval 2022
"O Carnaval tem que ser organizado com antecedência, é muito difícil produzir. O Prefeito vai instituir uma comissão da qual a Secretaria de Cultura obviamente fará parte para cuidar da interlocução e inscrição dos blocos. Mas eu não vou produzir e coordenar o Carnaval porque estarei fazendo a Semana de 22. O 22+100 é de 11 a 18 de fevereiro, e o Carnaval é a partir do dia 19.
Se pudermos ocupar as ruas no dia 18, a sexta-feira anterior ao pré-Carnaval, esse será o grito de Carnaval da Paulicéia Desvairada, com todas as escolas de samba e todos os blocos ao mesmo tempo, numa loucura antropofágica modernista, num sonho delirante do Mário, do Oswald, da Anita, da Tarsila.
Modernismo 22+100: por onde acompanhar
Nas redes Twitter, Instagram, Facebook
Nas plataformas Youtube, Spotify
No site oficial http://22mais100.prefeitura.sp.gov.br
Na edição de quarta-feira, a segunda parte da entrevista com Alê Youssef: o Museu de Arte de Rua, que ganhou elogios no NYT, e de projetos importantes como o Festival Mário de Andrade e a Jornada do Patrimônio.