[Paulicéia 038] André Sturm: "Curadoria é ajudar o público a ter vontade de ver um filme"
O empresário e curador indica dez de seus filmes preferidos disponíveis no serviço de streaming do Belas Artes.
TL;DR 👉 Na entrevista de segunda-feira, André Sturm contou como foi manter aberto o Belas Artes, mais tradicional cinema de rua de São Paulo, desde a ameaça de fechamento, em 2010, passando pela pandemia (e o que será depois). Hoje, mantendo o tema, Sturm fala sobre a criação do Belas Artes À La Carte, a plataforma digital do grupo, e indica dez de seus filmes preferidos que você pode ver online.
O Belas Artes À La Carte
“Isso foi o seguinte: quando eu saí da Secretaria de Cultura, em 2019, fiquei uns dois meses meio de ressaca, me recuperando. E comecei a pensar: o que posso fazer agora? O cinema estava aqui, a gente começou a pensar algumas coisas que até chegaram a acontecer, planejou e fez shows de música com imagens, filmes com trilha sonora ao vivo, eu queria dar um dinamismo. Por outro lado, comecei a encontrar mais amigos também, coisa que quando eu estava na Secretaria não tinha tempo. Falando com um amigo sobre como os streamings estavam chatos, pensamos em fazer um evento aqui no Belas, uma mostra de filmes, e eu falei: tem tanta gente que não pode vir, que mora longe, tem filho ou tá gripado, como é que eu faço? Vou fazer algo que seja o Belas para as pessoas e também para esse nicho que não é satisfeito pela Netflix. Um Belas Artes À La Carte. Isso foi em julho, comecei a mexer, fomos atrás de tecnologia, a gente pôs para funcionar em 31 de outubro de 2019, em caráter de teste. Em janeiro fechei um acordo com uma plataforma mundial, com muito mais qualidade, e marcamos a estreia oficial para abril de 2020, foi impressionante, os anjos da guarda todos apontando. Quando a gente colocou para funcionar pra valer, no dia 1º de abril, fazia sete dias de lockdown em São Paulo. Aí fizemos um mês grátis e foi incrível, teve mais de um milhão de acessos. Passamos a fazer assinatura a partir de maio. Fico muito orgulhoso e acho que a gente tem tido um retorno positivo. Agora vamos fazer um movimento para mostrar que o nosso streaming não é cabeçudo, também tem filmes de ação, filmes divertidos, filmes para chorar. Isso foi outra coisa maravilhosa que permitiu ficarmos vivos em 2020: a gente fazia reunião todo dia do À La Carte, e planejava, discutia, bolava a curadoria. Esse tem sido meu trabalho mais dedicado e divertido, porque eu fico procurando empresas no mundo que tenham acervo, penso que vale a pena. Quem organiza depois os filmes que entram é a Juliana, que é a diretora. Mas o que eu também acho importante destacar, no que eu chamo de curadoria, é que temos essa coisa muito eclética, que acho que ninguém tem, essa amplitude que vai do clássico, cinema mudo, e tem Bergman e Fellini, tem Audrey Hepburn e Cary Grant, tem anos 70, anos 80. Curadoria é ajudar o público a ter vontade de ver aquele filme. A gente criou umas retrancas diferentes, para não ficar em "romance" ou "ação". Agora inventamos o Belas Indica, então toda semana eu junto quatro filmes que têm algo em comum. Porque é isso também, as pessoas precisam de um pouco de ajuda, e vamos ajudando a formarem o seu gosto. Esse é o desafio: trazer filmes diferentes e empacotar de um jeito motivador.”
"Apocalipse Now" (EUA, 1979)
"Genial filme do Coppola. Ele adapta o clássico livro “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, situando a ação durante a Guerra do Vietnã. Um oficial recebe a missão de subir um rio em busca de um certo Coronel Kurtz, que teria enlouquecido e montado de um exército particular. Destaque para a atuação monumental de Marlon Brando."
"O Senhor das Moscas" (Inglaterra, 1963)
"Adaptação do livro homônimo de William Golding. A melhor adaptação literária para o cinema que já assisti. Nos anos 30, um avião que transporta um grupo de estudantes na faixa de 10-12 anos cai no mar, próximo a uma ilha. Os garotos conseguem chegar na ilha, sem nenhum adulto sobrevivente. Os acontecimentos seguintes são impressionantes, mostrando que crianças não são tão inocentes assim."
"Ricardo III" (Inglaterra, 1955)
"Adaptação de uma das melhores peças do bardo William Shakespeare, dirigida e interpretada com maestria por Laurence Olivier. Irmão do rei, Ricardo fará de tudo para conseguir a coroa. Um exercício sobre o poder. Preste atenção nos momentos em que Ricardo olha para a câmera e comenta suas maléficas intenções. Décadas depois, isso seria copiado em House of Cards."
"Asas do Desejo" (Alemanha Ocidental, 1987)
"Uma obra prima. Um dos filmes seminais dos anos 80 e que permanece com a mesma força. Amor, desejo e esperança, entre outros sentimentos fundamentais, na história de um anjo que se apaixona por uma trapezista, na Berlim ainda dividida."
"A Dama Oculta" (Inglaterra, 1938)
"Um Hitchcock perfeito. Todos os elementos, num filme que também tem humor. O próprio Hitch dizia ser seu filme preferido. Aula de cinema e diversão garantida."
"Charada" (EUA, 1963)
"Como o cinema pode ser maravilhoso. Dois astros no auge da beleza, charme e talento. Um roteiro brilhante. Direção perfeita. Cinema que reúne diversão e inteligência. Audrey Hepburn e Cary Grant."
"Águia na Cabeça" (Brasil, 1984)
"Filme de Paulo Thiago, com diversos astros brasileiros dos anos 80. Um retrato do Rio de Janeiro desta época numa história que mistura jogo do bicho, política e alta sociedade."
"O Homem da Capa Preta" (Brasil, 1986)
"Outro bom filme dos anos 80. Grande sucesso de público e crítica. José Wilker interpreta Tenório Cavalcanti, político populista dos anos 30 e 40 que costumava andar com uma metralhadora. Bela produção, ótimos atores e história do Brasil."
"Rashomon" (Japão, 1950)
"Um dos filmes que mais influenciaram o cinema mundial, dirigido pelo mestre Akira Kurosawa. Uma mulher é violada e seu marido, assassinado. Este crime será levado a julgamento. Quatro testemunhas darão seu relato, cada um diferente do outro. Espetacular roteiro, direção, fotografia, atuação. E criou este formato de uma história contada por diversos ângulos."
"Fogo e Paixão" (Brasil, 1988)
"Filme dirigido pela dupla de cineastas e arquitetos Isay Weinfeld e Marcio Kogan. Um dos mais originais e excêntricos filmes brasileiros. Um grupo de turistas embarca num ônibus para um tour pela cidade de São Paulo e encontra tipos os mais variados. Um humor que remete a Jacques Tati, com um refinamento raro. Destaque para o sensacional elenco com Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Rita Lee, entre outros."
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