São Paulo é uma cidade jovem. Em matéria de longevidade, fica atrás de quase tudo que foi importante até o começo do século 20 – pense que quando Ouro Preto já era capital das Minas Gerais, São Paulo não passava de um vilarejo. Logo, faltam espaços históricos genuínos que os paulistanos e visitantes possam frequentar. Mesmo nosso celebrado Páteo do Colégio é uma recriação. Acontece que nada em São Paulo fica como está por muito tempo, e lugares importantes da história do modernismo, como o Mirante Trianon, não existem mais – este último, no caso, deu lugar ao MASP. O Hotel de la Rotisserie Sportsman1, notório ponto de encontro da elite paulista que abrigou as conversas dos modernistas, hoje é o Edifício Matarazzo e sede da prefeitura. O famoso Ateliê de Tarsila do Amaral na Rua Vitória2 não existe, assim como o Bar Rutli3, da Barão de Itapetininga. Mas nem tudo é ruína: a Faculdade de Direito do Largo São Francisco4, onde todos os filhos de barões e industriais se formavam, segue de pé. E os outros itens da lista abaixo também.
Rua Líbero Badaró
O número 111, que hoje é um prédio comercial, foi endereço da primeira exposição de arte moderna do Brasil: a Exposição de Pintura Moderna de Anita Malfatti, em 19175. Já o terceiro andar do número 67 ficou famoso por abrigar, no começo dos anos 1920, a "garçonniére" de Oswald de Andrade6, frequentada por Mário de Andrade, Guilherme de Almeida e Monteiro Lobato, entre outros. O apartamento é cenário constante do belo "Neve na Manhã de São Paulo7", romance de ficção histórica que se passa no começo dos século e registra acontecimentos importantes, como as greves de 1918 — e, sim, uma manhã em que nevou na cidade. A rua hoje é endereço do gabinete da Secretaria Municipal de Cultura, criada por Mário de Andrade em 19358, atualmente no Edifício Sampaio Moreira9, o "primeiro arranha-céu" de São Paulo. A Mercearia Godinho10, fundada ali mesmo 1888, continua servindo ótimas empadas em um ambiente que pouco mudou nos últimos cem anos.
Theatro Municipal de São Paulo
Um clichê necessário: o Theatro foi palco da Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922. As apresentações aconteceram à noite, com venda de ingressos, mas durante o dia a visitação das obras expostas no saguão era gratuita. Se você se interessa pela história do Theatro, leia essas doze curiosidades numa reportagem que fiz em 2019.
Ponto Chic do Paissandú
O restaurante e lanchonete há muito perdeu o charme, mas nunca deixará de ser um ponto histórico, tanto por ter criado o sanduíche Bauru quanto por ter sido palco de encontros dos modernistas11 em suas andanças entre o Triângulo (a área que hoje chamamos de Centro Velho) e o Anhangabaú (onde foi construído o Theatro). Ah, sim: o Bauru continua ótimo.
Casa Mário de Andrade
Na Barra Funda, a Rua Lopes Chaves número 546 foi residência de Mário de Andrade12, mais tarde transformada em museu com acervo do poeta e escritor. Com exposições de curta e longa duração (e programação especial para 202213), a Casa tem móveis originais, cartas, biblioteca e objetos pessoais do autor de Macunaíma. A visita é gratuita mas precisa ser agendada.
Casa Guilherme de Almeida
Fora do roteiro central da cidade, a antiga residência14 do poeta, tradutor, jornalista e advogado paulista, um dos mentores do modernismo brasileiro, hoje é um museu que guarda uma importante coleção de gravuras, desenhos, esculturas, pinturas de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lasar Segall e Victor Brecheret. Além disso, a biblioteca, o mobiliário e os objetos decorativos, preservados pela viúva do escritor15, estão em exibição, constituindo uma janela e tanto para os gostos e modos de vida dos anos 1920-30.
Vem aí
Em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna, a GloboNews produziu um documentário original com seis artistas de hoje que, segundo a reportagem, têm o espírito dos modernistas de 1922: Maxwell Alexandre, Panmela Castro, Jonathas de Andrade, Denilson Baniwa, Baco Exu do Blues e Sergio Vaz. O especial se chama “Os Novos Modernos” e propõe reflexões sobre o movimento através de entrevistas exclusivas com os artistas e com familiares dos modernistas de 22, como a sobrinha-neta de Tarsila do Amaral e o neto de Oswald de Andrade. Estreia em 13/02.
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