[Paulicéia 041] Higor Advessunde: "O público pede que a Vila se desdobre em novas possibilidades"
Gestor conta como funciona e quem está frequentando a Vila Itororó, reaberta ao público como centro cultural em setembro passado
TL;DR 👉 Na entrevista de segunda-feira, o gestor técnico da Vila Itororó, Higor Advessunde, falou sobre a importância de transformar o conjunto arquitetônico em espaço cultural da cidade. Hoje ele conta em detalhes quais espaços formam a Vila Itororó e os planos da gestão para ampliar o acesso do público a esse patrimônio do Bixiga.
O trabalho na Vila hoje
"Essa é talvez a minha maior entrega como gestor: inaugurar a vila de fato, percebendo a procura do público pela Vila Itororó. A cada dia a gente percebe como ela é importante e como é importante que esteja aberta a ser ressignificada, não tá nada engessado. Nós temos uma linha de trabalho para potencializar e expandir as atividades, porque tem coisas que não tem como segurar, porque chegam demandas do público, do território, de artistas. Essas demandas vão pedir que a Vila vá se desdobrando em outras possibilidades.”
Os espaços da Vila
"Começando a partir da entrada: tem o Jardim do Éden, que é uma intervenção artística que recebe ativações a partir da programação, como contação de histórias e música. Tem o Éden de fato, que comporta o espaço do palco, com mais programação musical e a cozinha pública, um projeto que será aberto ao público de forma presencial em breve. Aí temos a quadra, um espaço de convivência para apresentações, ensaios, ou simplesmente para o público transitar. A piscina vazia, para nós, é um palco inverso, com apresentações. O cinema ao ar livre está conectado à piscina, porque o público entra para assistir à projeção. Nas áreas abertas, ainda tem um espaço de exposição ao lado da piscina, com nove painéis que pretendemos renovar com novas histórias da Vila. Temos os nove apartamentos, com entrada pela Rua Martinho de Carvalho, com projetos de ocupações artísticas selecionados via edital, que ficam até julho de 2022. Os projetos são bem diversos: tem dança contemporânea, teatro, teatro de bonecos, skate, intercâmbio de artistas mulheres latino-americanas, negras e caribenhas. Um dos coletivos selecionados atuou com os ex-moradores da Vila para tratar da desapropriação e trabalhar esse tema através de performances teatrais, fotografias, registros de audiovisual. Foi o primeiro projeto aprovado, porque estava completamente integrado com os moradores e era muito pertinente. Aí voltando pra cá: tem as ruínas e a escadaria, onde também acontecem apresentações, há pouco teve uma apresentação do saxofonista Eramir Neto no meio das ruínas, foi lindo. Tem o espaço que vai receber o futuro café da Vila, que vamos implantar em 2022. O ateliê é um espaço com oficinas de costura, moda, fotografia, audiovisual e cineclube. Uma sala de leitura infantil, uma sala de TV, o Centro de Referência da Igualdade Racial e o FabLab. O galpão não faz parte do conjunto arquitetônico, isso é importante destacar, e vai entrar em reforma. Para nós, ele é um anexo e está sem atividade no momento.
Mobiliário da Vila
"A gente não tinha um mobiliário ideal, não tinha um projeto de mobiliário, uma licitação para comprar tudo novinho. Eu tive que lidar com material de refugo, sobras de outros espaços da Secretaria Municipal de Cultura que adaptei para usar na Vila. Tinha um mobiliário antigo dos escritórios dos arquitetos, que ficavam no galpão, que estava já meio desgastado por conta do tempo. Nós pintamos, encapamos, buscamos uma estética bem próxima do que existe na Vila em termos de cores. Os armários nós recebemos um descarte do Museu da Cidade, armários antigos que estavam sendo trocados por novos. São aqueles armários dos anos 1950, de prateleiras de biblioteca, feitos de ferro. A gente recebeu, abriu, pintou de verde, que é uma cor recorrente aqui. Nós mobiliamos o espaço com material de sobra de outros lugares, e no final percebemos que era o mesmo que o Francisco de Castro fazia. Ele fez uma estrutura de parede com grades antigas e velhas, usava sobras de tijolos. A decisão de reciclar o material conversa com essa questão da ressignificação.
A Vai-Vai na Vila
"A Vila como centro cultural da Secretaria Municipal de Cultura tem uma política, já há muitos anos, de ceder espaços para grupos que queriam ensaiar, grupos de teatro que precisem de uma sala para fazer um encontro, para uma reunião. É normal que isso aconteça na SMC e aqui não foi diferente. Na inauguração, também chegou a notícia da desapropriação do galpão da Vai-Vai para instalação do metrô, né?1 A escola vai para outra sede, que ainda será construída. E a inauguração da Vila Itororó foi feita junto com a Jornada do Patrimônio de 2021, com minha coordenação. Dentro da curadoria artística desse ano existe um projeto chamado "Ligações Históricas", que são orelhões cenográficos colocados em dez pontos da cidade ligados às placas do programa "Memória Paulistana"2. Uma das placas conta a história do bloco Vai-Vai, que deu origem à escola de samba, então fizemos um orelhão com um áudio para contar essa história, e o Clarício, que é o presidente da escola, ficou muito feliz. Ele veio pessoalmente à Vila para agradecer, e comentou que eles estavam saindo da sede e procurando espaços para os ensaios. Eu convidei para ensaiar aqui na Vila, na quadra aberta, nada mais seguro neste momento do que ensaiar ao ar livre. Tudo bem que a Vai-Vai é enorme, mas estamos estruturando. É muito significativo para a escola se conectar com o território, muitos integrantes da Vai-Vai moraram aqui e agora voltam para ensaiar, entram nas casas, contam suas histórias. Os ensaios são abertos e acontecem durante a abertura pública da Vila, que é de terça a domingo, das 10 às 19h. A gente não divulga os dias e horários no Instagram porque não é um evento, é um ensaio, é a Vila Itororó recebendo o ensaio da Vai-Vai.
A Vila de noite
"Para a abertura, nós trouxemos duas intervenções artísticas com proposta de valorização do patrimônio histórico. Uma é a criação das grades com elementos que trazem os padrões da Vila e que foram buscados no trabalho feito pela Mônica Nador3, que é parte do nosso acervo. Ela identifica padrões e desenvolve texturas, pegando elementos e transformando-os em estampas. A outra intervenção foi a iluminação noturna criada pela Lígia Chaim4, que é moradora do Bixiga e neta do criador do Bolo do Bixiga5, que fez o movimento para o tombamento do Bixiga. A Lígia faz iluminação para teatro, iluminação cênica para artistas grandes, e a gente a chamou para fazer a iluminação da Vila, que tem todas as complexidades de estrutura e dimensão possíveis e imagináveis. A iluminação é a cereja do bolo da Vila Itororó6, isso aqui vira um lugar paradisíaco à noite. As pessoas vêm aqui só para apreciar a iluminação e ficar curtindo ou bebendo algo. É lindo de ver.
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